sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O desafio da Liderança na pós-modernidade

A pós-modernidade é um fenômeno social caracterizado, principalmente, por uma forte rejeição ao projeto da modernidade: construir uma sociedade mais justa e mais feliz pelo pleno desenvolvimento da razão. De acordo com a epistemologia moderna, ciência, tecnologia e conhecimento seriam as chaves para um futuro melhor. O resultado da proposta moderna, no entanto, foram duas grandes guerras mundiais e todas as desastrosas conseqüências que delas advieram.

A mesma pós-modernidade, porém, pode ser caracterizada por um resgate de valores antigos. Em sua frustração com o racionalismo, não apenas super-dimensionou a importância dos sentimentos, emoções e vontade individual – o que, de fato, fez – mas redescobriu a necessidade de recuperar bases relacionais como o amor, a humildade, a honestidade, o perdão, o respeito, e assim por diante. Note, por exemplo, que estes termos são destaque especial num dos livros mais vendidos em todo o mundo sobre liderança: O Monge e o Executivo, de James Hunter.

Ocorre que o desafio da liderança já não é assumido em termos de razão e pensamento, mas em termos de serviço, relacionalidade, carisma. Conhecimento e capacitação intelectual não são mais sinônimos de sucesso em liderança – o que não significa que deixaram de ser importantes no processo de formação do líder. Significa, contudo, que à liderança pós-moderna deve-se acrescentar valores de caráter e sociabilidade antes não claramente contemplados.

Em suma: para a pós-modernidade, se unirmos ao conhecimento – que transforma-se aqui em um conjunto de técnicas eficazes para o uso na obtenção de resultados – os antigos valores do amor ao próximo, da humildade de espírito, do perdão sem reservas, da cooperação, do altruísmo, da esperança, desenvolveremos uma liderança bem-sucedida.

Mas, e se cansarmos pelo caminho? E se chegarmos aos alvos propostos e descobrirmos que deixamos a alma para trás (Rubem Alves lembra que há pessoas que não têm uma alma, mas o que têm, no lugar? é uma agenda)? E se concluirmos que o sucesso de nossa liderança não nos trouxe realização? Não nos trouxe paz?
E se fracassarmos? E se tivermos que lidar com o fato de que nas relações humanas nem mesmo as melhores iniciativas promovem os melhores resultados? E se descobrirmos que somos incapazes de amar de fato, especialmente os inamáveis (sugestivo o título de um dos livros que vi expostos no saguão: “Como trabalhar para um idiota?”), os que recusam amor e recusam-se amar? E se não formos humildes, não sentirmos prazer no serviço – antes no sermos servidos, não nos mostrarmos capazes de perdoar aos que nos feriram?

E se não soubermos lidar com nossos medos, independentemente da grandeza de nossas conquistas? E se não soubermos lidar com as expectativas das pessoas a nosso respeito, pelo simples fato de sabermos, sob as máscaras, as fantasias, os complexos, que não somos o que pensam de nós e o que realmente esperam que sejamos – razão pela qual nos confiam, muitas vezes, suas próprias vidas? Finalmente: e se descobrirmos, como muitos líderes já o fizeram, que Liderança é Angústia? Que não possui nada de romântica e não corresponde ao entusiasmo com que se fala sobre ela?

Então, vamos perceber que ainda não nos livramos do cárcere moderno, pois ao invés de acrescentarmos ao conhecimento a virtude e os valores antigos que tanto desejamos, só fizemos adquirir novos conhecimentos sobre a virtude e sobre os valores, acrescentado-os aos que já possuíamos, sem, contudo, sermos capazes de os experimentar.

Vamos descobrir, como Santo Agostinho, que nossa vontade pode ser obedecida por todo o corpo, mas nem sempre por si mesma. Que nosso cérebro pode comandar os mais diversos membros e seguir sem autoridade sobre os sentimentos e as emoções. Que nossa mente não é forte o suficiente para domar nosso coração. Que o espírito humano encontra na própria natureza humana a causa de sua inanição, tornando o ser-humano seu principal e mais terrível adversário.

E mais: vamos descobrir que precisamos de algo que vá além do impacto que as novidades nos causam; precisamos de transformação. Já não nos bastam apelos, incentivos, motivações de diversas ordens, quando a mudança que surge como imperativo é uma mudança de dentro para fora – a começar no coração. Precisamos de quem nos toque o coração.

Assim, chegamos à conclusão que é preciso não apenas resgatar valores antigos, mas, inclusive, a pergunta por aquele de quem nos vieram: DEUS. Que é preciso reencontrarmos, além do alcance de nossas percepções, aquele cuja essência – não o discurso – é amor e cujo poder é poder para transformar vidas. Que é preciso nos entregarmos em suas mãos com fé e sem reservas, de coração, mesmo que para o pensamento isso possa não nos parecer adequado.

Sim, chegamos à conclusão que, antes de liderar, é necessário submeter-se – pois não pode haver liderança onde não há submissão – ao domínio daquele que, vencendo-nos, triunfa sobre nosso principal e mais terrível inimigo. É preciso que resgatemos, pois, na revelação de seu filho Jesus Cristo, o Deus submetido a si mesmo (“vim para fazer a vontade de meu Pai”), o modelo de liderança daquele que não somente ensinou, mas viveu os valores que ensinou. E que em sua liderança sobre nossos corações encontremos o socorro que nos capacite a liderar outros em confronto direto com nossas angústias (“sem mim, nada podeis fazer”).

Para finalizar, lembro suas palavras de encerramento do sermão da montanha, em Mateus capítulo 7, as quais podem fazer ainda mais sentido para este público de um encontro da habitação: “Aquele que ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem que construiu sua casa sobre a rocha. Vieram os ventos, a tempestade, e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu. Mas aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um homem que construiu a sua casa sobre a areia. Vieram os ventos, a tempestade, e deram contra aquela casa, que caiu. E foi grande a sua ruína.”

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