quarta-feira, 12 de março de 2008

CELULAS TRONCO - Marcos David Muhlpointner

Células-tronco embrionárias são células humanas?
Célula-tronco é um tipo de célula capaz de se diferenciar e constituir diferentes tecidos do corpo humano. Isso significa que uma célula-tronco pode se diferenciar para uma célula nervosa (neurônio), ou uma célula cardíaca, ou uma célula da pele, ou uma célula do fígado, entre outros órgãos. A outra capacidade que essas células têm é de se auto-replicarem. Isso significa que elas podem gerar cópias idênticas a elas mesmas.

Como elas surgem? Essas células surgem da fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Ou seja, quando há a concepção de um novo ser humano. É muito fácil entender. Quando ocorre a fecundação... autor
Marcos David Muhlpointner
Biólogo pela Univ. Mackenzie e professor de Ciências e Biologia em colégios particulares de São Paulo. Membro da Comunidade de Jesus - São Bernardo do Campo, exercendo os ministérios de música e de pregação. Faz palestras sobre bioética, ciência e fé e atualmente está preparando um livro sobre Bioética à luz da Bíblia.


Não tenho dúvida nenhuma que o século 21 será, em semelhança ao século 20, marcado por uma forte influência da ciência na vida das pessoas. Em qualquer área do conhecimento, mas principalmente aquele que se relaciona com as biotecnologias, já temos experimentado um avanço extraordinário. No que diz respeito aos avanços na área da genética, o fluxo de novas informações é tremendamente alto. Garanto que nem Watson e Crick imaginavam o quanto esse conhecimento cresceria desde a descoberta que fizeram sobre a estrutura do DNA.

Hoje o que mais nos chama a atenção são as pesquisas sobre as células-tronco, particularmente as células-tronco embrionárias. Essas células são as mais cobiçadas pelos geneticistas e o alvo de uma intensa discussão bioética. Sempre vejo congressos e debates sobre elas. Até mesmo eu já fui convidado algumas vezes a participar de discussões sobre a utilização dessas células para pesquisas científicas. A conclusão a que tenho chegado é que a maioria das pessoas da sociedade não faz a mínima idéia do que seja uma célula-tronco. E, quando tento saber de um evangélico o que é uma célula-tronco, a situação é ainda pior (na verdade hoje em dia, não sei nem mais o que significa ser chamado de evangélico!).

Célula-tronco é um tipo de célula capaz de se diferenciar e constituir diferentes tecidos do corpo humano. Isso significa que uma célula-tronco pode se diferenciar para uma célula nervosa (neurônio), ou uma célula cardíaca, ou uma célula da pele, ou uma célula do fígado, entre outros órgãos. A outra capacidade que essas células têm é de se auto-replicarem. Isso significa que elas podem gerar cópias idênticas a elas mesmas.

Como elas surgem? Essas células surgem da fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Ou seja, quando há a concepção de um novo ser humano. É muito fácil entender. Quando ocorre a fecundação forma-se uma célula primordial, o zigoto. A partir desse momento essas células passam por sucessivas e inúmeras divisões. Isso significa que essa única célula se divide em duas, depois cada uma dessas se divide em quatro, depois em oito, em dezesseis, em trinta e duas células e assim sucessivamente. Até que, nove meses depois, temos um bebê pronto para nascer. O espetacular desse processo é que no início havia uma única célula. À medida que esse processo vai se desenrolando, a quantidade de células vai aumentando e elas vão se diferenciando e se transformando nos 216 tecidos que formam o corpo humano. Pegue agora sua Bíblia e leia o versículo do Salmo 139:16! Queria saber como foi que o salmista chegou a essa conclusão?

Mas onde está o problema? Imagine que uma mulher suspeita de estar grávida e essa gravidez está por volta dos 15 dias. A pergunta é: essa mulher está grávida de um ser humano ou de um amontoado de células que ainda vai se transformar num ser humano? Para dificultar um pouquinho mais: quando começa a vida biológica? Não tenho dificuldade nenhuma em afirmar que logo depois do encontro do óvulo com o espermatozóide, temos um novo ser humano.

Os cientistas encaram o começo da vida de maneiras variadas, porém podemos colocar aqui as três mais reconhecidas. Há aqueles, que como eu, entendem que a vida começa no momento da concepção, tendo em vista que a carga genética já está completa no momento da concepção. Um segundo grupo de cientistas coloca que a vida começa no momento em que o embrião não é mais capaz de ser dividido e originar outros indivíduos. Isso acontece até 12 dias após a fecundação, período em que, se as células forem divididas poderão originar duas ou mais pessoas (como é o caso de gêmeos idênticos). Um terceiro grupo pontua o início da vida quando se percebe a atividade cerebral do embrião idêntica a de uma pessoa. Não há consenso de quando acontece isso, contudo a formação do sistema nervoso central se estende da 9ª semana até a 20ª.

Em março desse ano, a quantidade estimada de embriões congelados era em torno de 10 mil. Esse número foi fornecido pela Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida como resultado de uma pesquisa enviada a 45 clínicas de reprodução humana. O problema é que apenas 15 clínicas responderam a essa pesquisa. Em recente publicação (edição 219/novembro 2005), a revista Superinteressante fez uma boa reportagem sobre o assunto e estimou a quantidade de embriões congelados há mais de 3 anos em 20 mil. Realmente não dá para saber quantos embriões congelados temos efetivamente. O fato é que eles estão aí e todos os segmentos da sociedade estão discutindo que fim eles deverão ter.

Esse é o primeiro artigo sobre células-tronco que escrevo. Nos próximos vou discutir um pouco as questões éticas que envolvem esse tipo de pesquisa e tentar relacionar essas questões éticas com a ética que retiramos da Bíblia.


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Veja outros artigos desta série:

Células-tronco embrionárias ou seres humanos embrionários?
Imagine que uma mulher está há duas semanas com a menstruação atrasada e, desconfiada, compra na farmácia mais próxima da casa dela um teste para gravidez. Sentindo os sintomas básicos de uma provável gravidez ela faz o teste com quase certeza do resultado que aparecerá. Depois de alguns minutos de colher o material, a cor do teste se modifica e suas suspeitas se confirmam: ela está grávida. Minha pergunta é: ela está grávida de quê?
Há algum tempo atrás a resposta a essa pergunta seria óbvia: ela está grávida de um bebê. Mas o que entendemos pela palavra “bebê”?

Embriões congelados. O que fazer com eles?
Pois bem, no Brasil há cerca de 20 mil embriões congelados, que não serão usados para fertilizar nenhuma mulher e que, em aproximadamente 3 anos, serão completamente descartados, serão jogados fora! Só pra apimentar a conversa: são 20 mil embriões que, se implantados em 20 mil mulheres poderiam gerar 20 mil crianças! Retomo a mesma pergunta dos dois textos anteriores: esses 20 mil embriões são seres humanos ou não? Se não são humanos, então podemos utilizá-los nas pesquisas como se usássemos células sangüíneas. Podemos tirar alguns mililitros de sangue de uma pessoa, utilizar em pesquisa e essa pessoa doadora não perde a sua vida por causa disso. Se não são humanos, então não infringiremos nenhuma lei, pois não mataremos nenhum ser humano.
Agora, se considerarmos esses embriões como humanos legítimos...

Descarte de embriões - Será que Deus concorda?
A argumentação de que o uso desses embriões lhes daria dignidade (“pois seriam descartados mesmo...”), esconde um problema. Esses embriões não têm capacidade de decidir se querem ou não fazer parte das pesquisas científicas. Não se pode dispor da vida dos seres vivos a bel prazer, mesmo com a argumentação do benefício universal, do bem-estar geral, do avanço científico ou até mesmo a argumentação da cura de certas doenças.

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