quarta-feira, 12 de março de 2008

Descarte de embriões - Será que Deus concorda?

Descarte de embriões - Será que Deus concorda?
A argumentação de que o uso desses embriões lhes daria dignidade (“pois seriam descartados mesmo...”), esconde um problema. Esses embriões não têm capacidade de decidir se querem ou não fazer parte das pesquisas científicas. Não se pode dispor da vida dos seres vivos a bel prazer, mesmo com a argumentação do benefício universal, do bem-estar geral, do avanço científico ou até mesmo a argumentação da cura de certas doenças.

Marcos David Muhlpointner
Biólogo pela Univ. Mackenzie e professor de Ciências e Biologia em colégios particulares de São Paulo. Membro da Comunidade de Jesus - São Bernardo do Campo, exercendo os ministérios de música e de pregação. Faz palestras sobre bioética, ciência e fé e atualmente está preparando um livro sobre Bioética à luz da Bíblia.


Se você chegou até aqui, devo lhe parabenizar pelo menos por dois motivos. O primeiro deles é por realmente ter me acompanhado nessa reflexão. O outro motivo é pela paciência em esperar. É que me casei em janeiro e só agora estou voltando às minhas atividades.

Neste artigo quero colocar como penso que a Bíblia encara a questão da importância da vida e do ser humano. Quero lembrar que estamos tratando de questões relativas à bioética e como podemos nos portar diante dessas questões à luz da Palavra de Deus. Logo no início quero enfatizar que não podemos pensar na ética da vida se não pensarmos no criador da vida. Todo o relato dos primeiros dois capítulos da Bíblia diz respeito a Deus criando, primeiro um am ambiente favorável, e depois, seres vivos que habitassem esse meio ambiente. É inegável também o fato marcante da Bíblia começar com as origens de tudo, inclusive da vida.

Só pelo fato da Bíblia mostrar que Deus é o criador da vida, já nos serve de alerta para investigarmos o que Ele pensa do assunto. Por outro lado, a Bíblia também nos mostra que Ele é o sustentador da vida, o mantenedor da existência dos seres vivos, particularmente dos humanos, com os quais Ele estabelece uma relação mais direta. É justamente por isso que julgo ser de suma importância a manutenção e a luta pela vida. Recebemos de Deus a vida e os recursos para a sua manutenção.

Assim sendo, reitero que Deus é o sustentador da vida, no sentido de prover os meios para que os seres vivos vivam e se reproduzam. Da nossa parte, seres dotados de inteligência e uma certa transcendência, somos responsáveis por usarmos os recursos que Ele nos dispõe. Mas vamos ampliar um pouco nossa visão da importância que Deus dá aos seres humanos.

O salmista quando está pensando na grandiosidade da criação de Deus, questiona qual seria a posição do homem. Ao mesmo tempo é impactado com a verdade da dignidade da posição do homem diante de Deus (Salmo 8:4-6). É bem verdade que com a entrada do pecado provocada pelo próprio homem, essa dignidade se perdeu totalmente. Mas quando da criação original, o homem era um pouco menor que os anjos. Ainda assim, os humanos aparecem numa posição de destaque, pois Deus Se aproxima e busca ter comunhão com a coroa da Sua criação (Salmo 14:2).

Ainda no livro das origens, Gênesis, vemos o relato de Deus procurando o primeiro casal na viração do dia (Gênesis 3:8). Não nos é possível saber com exatidão quanto tempo demorou da criação de Eva até a Queda. Mas podemos extrair do texto que Deus, há algum tempo, procurava o casal no fim de cada dia. Isso só pode significar a importância que Deus dava para a relação direta com Adão e Eva. Vemos que Ele os procurava. E o fazia num momento do dia propenso à conversa: depois das atividades diárias, da colheita dos frutos, das conversas entre o casal, da convivência pacífica com os animais... Ora, depois que o casal “já tivesse assunto”, vinha Deus para conversar com eles. Essa é mais um prova da importância que Deus dá para a vida humana.

Um outro lado da questão que quero enfatizar é o fato de Jesus, a imagem do Deus vivo (João 14:9), ter vindo em forma humana. Ele poderia não ter encarnado, ter vencido a morte sem a encarnação. Primeiro porque, já sendo imortal, poderia vencer a morte facilmente. Segundo, porque poderia ter destruído a Satanás em qualquer momento da história. Mas não! Deus escolhe enviar Seu Filho na semelhança do pecado, para vencer o pecado no seu próprio campo de atuação. A encarnação encerra uma máxima que não pode sair das nossas mentes e corações: Deus Se fez homem e como homem habitou no nosso meio, sofrendo das mesmas limitações que nós, para nos dar uma esperança inefável.

Principalmente por esses motivos é que devemos nos posicionar contra o uso indiscriminado dos embriões que estão congelados. A argumentação de que o uso desses embriões lhes daria dignidade (“pois seriam descartados mesmo...”), esconde um problema. Esses embriões não têm capacidade de decidir se querem ou não fazer parte das pesquisas científicas. Não se pode dispor da vida dos seres vivos a bel prazer, mesmo com a argumentação do benefício universal, do bem-estar geral, do avanço científico ou até mesmo a argumentação da cura de certas doenças.

O meu temor é que essa discussão esconde uma outra discussão ainda mais urgente. Por que há tantos embriões congelados? E se já existem tantos, por que ainda continuar com isso? A resposta está nas clínicas de fertilização. Hoje, quando um casal tem problemas para engravidar, os geneticistas lançam mão da inseminação artificial. Estimula-se a ovulação de vários óvulos, eles são fecundados e colocados na mulher entre 3 e 4. Os “outros” são congelados para uma “possível eventualidade”. Se essa primeira inseminação “funcionar”, os outros embriões ficarão congelados e não serão mais utilizados pelo casal.

A discussão é: o que de fato significa ser mãe? O que realmente é ser mãe e pai de uma criança? Não nego os sonhos das mulheres terem seus próprios filhos gerados por elas e seus maridos, manter e sustentar uma gravidez, sonhar com os sonhos que vai ouvir nos exames, dos chutes que a criança vai dar. Mas será que ser mãe é apenas gerar uma criança no ventre? Vou mais longe ainda, pelo que vejo nas Escrituras, a soberana vocação de Deus às Suas filhas, é que elas sejam mães excelentes.

Mas ser mãe não é apenas gerar uma criança em seu ventre. Quantas mulheres têm seus filhos naturais e os descartam. E é isso que se faz com os embriões congelados e não “utilizados”. Depois de três anos de congelamento ele não servem para a pesquisa. E qual é a diferença de um embrião congelado descartado e uma criança recém-nascida descartada. Há alguns meses, ficamos indignados e chocados com uma criança encontrada num saco plástico, abandonada na Lagoa da Pampulha em Belo Horizonte. Será que temos a mesma indignação pelos embriões que serão (ou que já estão sendo) descartados?

Fica o alerta para pensarmos e aplicarmos às nossas vidas.

“...e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” – Efésios 1:5

Nenhum comentário: