quarta-feira, 12 de março de 2008

QUEM SÃOS OS FILHOS DOS HOMENS EM Gn. 6.1-4?

QUEM SÃO OS FILHOS DOS HOMENS?

GÊNESIS 6.1-4: “Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas. Vendo os filhos de Deus(b nê ‘Elohim) que as filhas dos homens(b nê ‘ãnãshã) eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradavam. Então disse o Senhor: o meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos. Ora naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus(b nê ‘Elohim) possuiram as filhas dos homens(b nê ‘ânãshã), as quais lhe deram filhos; estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade.”
INTRODUÇÃO: Essa passagem acima transcrita, tem sido aos longos dos tempos, um grande combustível para despertar algumas polêmicas e diversos pontos de vistas entre os estudiosos da teologia. Não é nosso interesse encerrar ou esgotar as polêmicas, mas de oferecer alternativas que possam nos ajudar a entendermos as diversas correntes de pensamentos existentes em torno dessa problemática. Para isso vamos colocar cada uma das opiniões, cada uma com a respectiva base de apoio, como também as suas fraquezas .
SENTENÇA DE TRANSIÇÃO: Existe pelo menos três posições acerca da interpretação dessa passagem em destaque. Estudaremos uma a uma, para que fique mais fácil a nossa compreensão. Vamos a primeira.
I – PRIMEIRA INTERPRETAÇÃO: “OS FILHOS DE DEUS” SÃO ANJOS CAÍDOS QUE TIVERAM UM RELACIONAMENTO ÍNTIMO COM SERES HUMANOS.
1. BASE BÍBLICAS OU DE APOIO:
1.1. A expressão “filhos de Deus” também se aplica a seres angelicais pagãos . Por exemplo em Daniel 3.25 “Tornou ele e disse: Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos desuses.” essa expressão é usada por Nabucodonosor para identificar a quarta pessoa da fornalha como sendo um filho dos “deuses”. A palavra no original(hebraico- b nê ‘Elohim) é a mesma usada em Gênesis 6.2,4 e Jó 1.6,2.1,38.7. Essa expressão tanto era usada para anjos bons, como para maus.
1.2. Essa posição parece solucionar o problema dos gigantes, ou sejam, filhos anormais decorrentes da relação entre humanos e anjos.
1.3. Essa posição se apoia no texto em destaque para explicar que os filhos de Deus usaram de força para subjugar as filhas dos homens.
1.4. Se apoiam no versículo 6 de Judas para mostrar que “os anjos que não guardaram o seu estado original...” ou seja, deixaram seus corpos espirituais assumindo forma humana para manterem relação com as filhas dos homens. Para tal afirmação usam 2 Coríntios 11.14-15.
1.5. Essa posição era defendida desde a antigüidade e feito referência nos seguintes escritos:( Livro de Enoque Filo, Josefo, Justina Mártir, Clemente de Alexandria e Tertuliano).
2. FRAQUEZA DA POSIÇÃO:
2.1. Em judas 6 a onde diz: “os anjos que não guardaram o seu estado original” pode perfeitamente estar falando do estado de santidade que eles tinham no céu antes da queda. Quando esse versículo é lido junto com o (v.8) o demonstrativo “estes” não determina os anjos que não guardaram o seu estado original, e sim a certos homens ímpios. Temos mais razão para cremos que a expressão “não guardaram o seu estado original” estar se referindo a sua natureza de santidade antes da queda. Isso pode ser apoiado em 2 Pedro 2.4 “Ora, se Deus não poupou a anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo.”
2.2. A expressão “..tomaram para si mulheres...” encontrada no (v.2) Se refere no original a casamento duradouro. A maior dificuldade que essa posição tem de explicar, é o fato de que Jesus diz que os anjos “nem casam nem se dão em casamento”(Mateus 22.30) Essa afirmação de Jesus parece tornar insustentável este ponto de vista, pois o texto de Gênesis 6.1-4 declara que os filhos de Deus tomaram as filhas dos homens em matrimônio.
2.3. A expressão “Vendo os filhos de Deus que as mulheres dos homens era formosas...” Não se pode conceber que a beleza das mulheres possa despertar amores sensuais nos anjos, pois os mesmos possuem natureza espiritual e não são carnais. Ainda dentro desse pensamento o (v.3) diz que o motivo de retirar o Seu espírito do homem era devido a carnalidade.
2.4. O castigo de Deus no (v.3) foi dirigido aos homens e não anjos, isso deixa claro que o contexto se refere a homens e não a anjos.
2.5. Usar 2 Coríntios 11.13-14 para tenta provar que os anjos caídos podem tomar forma humana, é no mínimo fazer uma exegese torta, pois o contexto fala de falsos profetas ou de ensinos falsos, que o Diabo usa para transtornar a graça de Cristo.
2.6. Quando a teoria angélica surgiu, representava a opinião de uma escola particular existente no seio da comunidade judaica, ao passo que o grupo de maior influência, em assuntos religiosos, ensinava que a passagem referida significa homens e não anjos.
SENTENÇA DE TRANSIÇÃO: Esse foi a primeira interpretação, qual será a Segunda?
II – SEGUNDA INTERPRETAÇÃO: A Expressão “filhos de Deus” representa a quebra da separação da linhagem piedosa de Sete, através de casamentos mistos com a linhagem ímpia de Caim.
1. BASES BÍBLICAS OU DE APOIO:
1.1. A expressão “filhos de Deus” é um termo usado para designar os filhos de Deus. Nesse texto em questão os filhos de Deus se refere à linhagem de Sete que, até então, se caracteriza por: 1). Devoção para com Deus(Gn 4.25); 2). Consagração a Deus(Gn 4.26); 3). Comunhão com Deus(Gn 5.22); 4. Testemunho de Deus(Hb 11.5); 5). Serviço a Deus(Gn 5.29); 6). Graça recebida de Deus(Gn 6.8).
1.2. Evita todo o problema decorrente da interpretação de que eram anjos.
1.3. Essa interpretação melhor se adapta ao contexto do (v 3), onde mostra a decisão de Deus em destruir o homem devido a sua carnalidade. O motivo aqui da destruição é que a linhagem de Sete deixará de cumprir os propósitos de Deus, se misturando com a linhagem de Caim e como conseqüência gerando uma geração de perdidos. Eles defendem esse ponto de vista devido a palavra “gigantes” (nefilim) poder ser derivada do verbo cair, assim significando “os caídos”.
2. FRAQUEZA DA INTERPRETAÇÃO:
2.1. A expressão “filhos de Deus” não é um termo exclusivo para identificar os filhos de Deus(os salvos), mas também é usado para identificar seres celestiais(anjos – Jó 1.6;2.1; 38.7) ou divindades pagãs.(Conf. Dn 3.25).
2.2. Essa posição interpreta o contexto do (v.4) literalmente, mas deixa de usar o mesmo método de interpretação para a palavra “gigante”, interpretando a mesma de modo alegórico. Não há razão para interpretar a expressão “gigantes” simplesmente como simbólico, além domais utilizando uma possibilidade e não uma confirmação da raiz da palavra.
2.3. Não se explica a origem dos gigantes e homens poderosos simplesmente por casamentos religiosamente mistos.
2.4. A dificuldade textual de considerar “os homens” do (v.1) diferentes dos homens do (v.2), uma vez que a palavra no original é a mesma, tanto para um, como para o outra.
2.5. A ausência do termo exato “filhos de Deus” para os crentes no Velho Testamento
SENTENÇA DE TRANSIÇÃO: Já vimos duas interpretações de Gênesis 6.1-4, agora veremos a terceira:
III – TERCEIRA INTERPRETAÇÃO: A expressão “filhos de Deus” se refira a grandes homens, reis, governadores, chefes déspotas que contraíram matrimônios com as filhas dos homens(as mulheres de classe inferior)
1. BASE BÍBLICA OU DE APOIO:
1.1. Era comum no Oriente próximo chamar os reis de “filhos de Deus”. Esse costume estar historicamente provado na Versão samaritana; tradução grega de Symma-chus, Targuns de Onkelos e de Jonatas).
1.2. A expressão “filhos de Deus” também biblicamente era usada para identificar “deuses” (Conf . Daniel 3.25). Esse termo não era exclusivo apenas para anjos.
1.3. Esta teoria adapta-se com mais normalidade ao contexto.
1.4. Essa teoria resolve a problemática dos anjos.
1.5. Essa posição leva em consideração o contexto histórico e cultural da época, pois segundo os textos samaritano a expressão “Os filhos de deuses” referia-se aos homens e não anjos.
1.6. A antigüidade desta interpretação já defendida a muito tempo atras pelos estudiosos da Bíblia.
1.7. Essa posição deixa o menor número de questões não respondidas.
1.8. A referência no contexto para o desenvolvimento de dinastias ímpias.
1.9. Referências em relatos antigos da origem de realeza antes do dilúvio.
1.10. A Expressão “...estes foram valentes, varões de renome, na antigüidade” Nessa frase é feita alusão às bem conhecidas lendas tradicionais já existente na época.
2. FRAQUEZA DA INTERPRETAÇÃO:
2.1. A falta de referência bíblica que apoiam o costume do Oriente.

CONCLUSÃO: Sei perfeitamente que esse modesto estudo não elimina todas as dúvidas a problemática em destaque, mas com certeza dará um rumo aqueles que pretendem estudarem o assunto mais profundamente. Confesso que ainda o autor desse estudo ainda não chegou a um veredito conclusivo, mas contínua juntando dados e informações que possam lhe ajudar a tomar uma posição mais aproximada com a Bíblia.

DADOS BIOGRÁFICOS DO ESTUDO:
1. Bíblia anotada
2. Bíblia Scofield, Edição 1986, Empremsa Batista Regular.
3. Bíblia Vida Nova, Edição1995, Editora Mundo Cristão.
4. O Novo Comentário da Bíblia, Edição 1990, Editora Mundo Cristão.
5. Dicionário da Bíblia, Jonh D. Davis, Edição 1987, Editora JUERP.
6. Comentário Bíblico, Moody, Edição 1984, Editora Batista Regular.
7. Manual Bíblico, Henry H. Halley, Edição 1997, Editora Vida Nova.
8. Dicionário Internacional do Antigo Testamento, R. Laird Harris, Gleason L. Archer, Jr, Bruce K. Waltke, Edição 1998, Editora Vida Nova.
9. Enciclopédia Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “contradições” da Bíblia, Norman Geisler e Thomas Howe, Edição 1999, Editora Mundo Cristão.

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