quarta-feira, 12 de março de 2008

Embriões congelados. O que fazer com eles?

Embriões congelados. O que fazer com eles?
Pois bem, no Brasil há cerca de 20 mil embriões congelados, que não serão usados para fertilizar nenhuma mulher e que, em aproximadamente 3 anos, serão completamente descartados, serão jogados fora! Só pra apimentar a conversa: são 20 mil embriões que, se implantados em 20 mil mulheres poderiam gerar 20 mil crianças! Retomo a mesma pergunta dos dois textos anteriores: esses 20 mil embriões são seres humanos ou não? Se não são humanos, então podemos utilizá-los nas pesquisas como se usássemos células sangüíneas. Podemos tirar alguns mililitros de sangue de uma pessoa, utilizar em pesquisa e essa pessoa doadora não perde a sua vida por causa disso. Se não são humanos, então não infringiremos nenhuma lei, pois não mataremos nenhum ser humano.
Agora, se considerarmos esses embriões como humanos legítimos...

Marcos David Muhlpointner
Biólogo pela Univ. Mackenzie e professor de Ciências e Biologia em colégios particulares de São Paulo. Membro da Comunidade de Jesus - São Bernardo do Campo, exercendo os ministérios de música e de pregação. Faz palestras sobre bioética, ciência e fé e atualmente está preparando um livro sobre Bioética à luz da Bíblia.


Olá, se você está comigo desde o início do desenvolvimento deste tema, já é a terceira vez que está lendo sobre o que penso das células-tronco e das pesquisas que as envolvem. Nos dois primeiros textos fui bastante teórico porque precisava passar conceitos teóricos e científicos para abalizar nossa discussão a partir de agora. Neste artigo vou ser mais prático e bem mais direto no tema das pesquisas das células-tronco. Só lembrando: células-tronco podem se diferenciar em qualquer tipo de tecido. Existem dois tipos de células-tronco basicamente: as embrionárias e as adultas.

Como já vimos anteriormente, há um grande interesse na pesquisa com essas células, pois elas representam uma possibilidade de cura para muitas doenças incuráveis hoje em dia. Doenças degenerativas como as neurológicas e algumas musculares, doenças metabólicas, doenças herdadas geneticamente ou adquiridas, enfim, muitas delas poderão ser tratadas até a sua cura definitiva.

Uma das razões do grande interesse nessas pesquisas é justamente o fato das pessoas não gostarem de ficar doentes. Febres, dores, indisposições, todo tipo de mal-estar é combatido vigorosamente por cada um de nós. Ao primeiro espirro ou tosse, toda mãe cuidadosa já fica atenta e manda a criança se proteger do frio para evitar o pior. E, muitas vezes, mesmo assim, nossa luta é vã. Aí então entram os remédios, injeções, tratamentos, dietas, faltas no trabalho, na escola, enfim, entramos num período que ficamos limitados nos nossos afazeres e prazeres. Precisamos abrir mão do que gostamos de fazer, da convivência de quem gostamos. Nosso humor muda e ficamos irritados e depressivos. Toda aquela força e robustez desaparecem. Aquela jovialidade e vigor da vida quase murcham por completo. Ah, que coisa ruim é ficar doente e que praga é a doença.

É minha firme convicção que toda pessoa que escolhe trabalhar na área da saúde, na área médica ou biomédica tem um real interesse no bem-estar do próximo. Por outro lado, sei que existem muitos profissionais na medicina que são incorretos, agem de má fé e estão interessados em coisas escusas. De qualquer forma, é um tipo de profissão que força o profissional a fazer certas escolhas, algumas bem difíceis.

O mesmo acontece com aqueles profissionais que optam por trabalhar na área da pesquisa científica. Especialmente no Brasil, os cientistas não são remunerados como acham que merecem — acho que isso também acontece com engenheiros, médicos, advogados e até biólogos — mas mesmo assim optam por fazer pesquisa pelo prazer que isso representa, pelo desconhecido que querem desvendar e até mesmo aplicar os resultados das pesquisas ao benefício das pessoas, particularmente aos doentes. Acredito que as pesquisas com células-tronco também envolvem esse aspecto. Tem muita gente séria trabalhando com pesquisa básica para a melhoria da nossa qualidade de vida.

Contudo, é necessário comentar, infelizmente, que na área científica também existe muito interesse errado. Há muita gente interessada em apenas ficar famosa, angariar mais e mais recursos financeiros governamentais e privados e fazer o nome. Qual cientista não gostaria de ficar “eternizado” nas páginas da Science ou da Nature como aquele que descobriu a cura para a AIDS, ou Parkinson, ou diabetes, ou até mesmo para doenças mais simples como um resfriado! Imagine-se sendo aclamado pelas pessoas, pela mídia especializada, dando entrevistas na televisão e revistas. Tal cientista seria recebido por todo tipo de autoridade, presidentes, chefes de Estado... congressos, simpósios e conferências. Pois é, a área científica não é diferente de nenhuma outra e também tem cientista fazendo pesquisa para receber os “louros da vitória”.

Julguei necessário fazer essa pequena digressão do tema central para mostrar o que pode estar por trás dos argumentos dos cientistas. E, antes que julguem mau, não vou tecer nenhum tipo de juízo de valor quanto aos interesses das pessoas envolvidas nessas pesquisas. Não é minha função julgar (no sentido jurídico da expressão) a conduta das pessoas, nem dos cientistas sérios, nem dos picaretas, nem das pessoas doentes de certos males, que nos momentos de dor mais aguda fariam qualquer coisa para se curarem (até mesmo comprarem suas “curas” em templos evangélicos de pastores “fazedores” de milagres).

Pois bem, no Brasil há cerca de 20 mil embriões congelados, que não serão usados para fertilizar nenhuma mulher e que, em aproximadamente 3 anos, serão completamente descartados (vale lembrar que esses embriões só estão congelados por que casais inférteis buscaram auxílio nas clínicas de reprodução assistida). Para não usar de eufemismos: esses embriões serão jogados fora! Só pra apimentar a conversa: são 20 mil embriões que, se implantados em 20 mil mulheres poderiam gerar 20 mil crianças! Retomo a mesma pergunta dos dois textos anteriores: esses 20 mil embriões são seres humanos ou não? Se não são humanos, então podemos utilizá-los nas pesquisas como se usássemos células sangüíneas. Podemos tirar alguns mililitros de sangue de uma pessoa, utilizar em pesquisa e essa pessoa doadora não perde a sua vida por causa disso. Se não são humanos, então não infringiremos nenhuma lei, pois não mataremos nenhum ser humano.

Agora, se considerarmos esses embriões como humanos legítimos, não em potencial, aí teremos que repensar o valor das nossas pesquisas. Se esses embriões são seres humanos, eles têm direito à vida e, portanto, ao usá-los nas pesquisas, estaríamos negando esse direito a eles. Por isso é que acho de fundamental importância sabermos nos posicionar quanto à pesquisa com células-tronco. A ciência, muitas vezes, é um caminho sem volta e, em vez de ajudar, pode criar traumas e problemas seríssimos. A sociedade precisa discutir e aprofundar esse tema urgentemente.

Um amigo meu, ginecologista e vereador em São Paulo, numa das conversas que tivemos sobre isso colocou um exemplo que ilustra bem isso. Há algum tempo atrás, os casais só sabiam o sexo da criança na hora do parto. Com o aparecimento do ultra-som, podemos saber o sexo da criança muito tempo antes do parto. Ninguém nega que o ultra-som seja um avanço. Entretanto, o exame pode acusar um criança anencéfala, fadada a morrer logo depois do parto. Pronto, agora temos um problema, e sério: o que o casal vai fazer? Veja, a frustração do casal começa imediatamente. Mantém a gravidez? Tiram a criança antes? Será que vão tentar outra gravidez? Será que devem adotar uma criança? Será que devem procurar a inseminação artificial? Será que o casal tinha estrutura psicológica para receber um resultado desse? Como que o ginecologista conduziu o caso? Essas são questões que não existiam há 50 anos atrás. Elas existem agora e precisamos discuti-las!

Há quem pense da seguinte maneira: “Bem, já que os embriões existem e serão descartados, seria mais digno que fossem utilizados para pesquisas científicas”. Então, por que não pensar a mesma coisa para pessoas que se encontram em estado vegetativo, tal como Terri Schiavo se encontrava? Bem, ao perder suas faculdades mentais, Terri não apresentava mais sinais vitais no cérebro, mas foi mantida viva, ligada a aparelhos que a alimentavam e cuidavam de seus parâmetros metabólicos. Ora, se Terri Schiavo já não mostrava sinais de autoconsciência, quanto mais um embrião que ainda não desenvolveu o sistema nervoso central! Será que é por isso que muitos cientistas consideram o início da vida apenas quando o sistema nervoso central está formado, lá pela 20ª semana de gestação?

Terri Schiavo não tinha consciência e nem se expressava, mas Christopher Reeve estava consciente e se expressava, apesar de ter ficado tetraplégico! Ainda vivo, o físico Stephen Hawking, se comunica apenas de modo digital e também vive de modo vegetativo. Será que a vida é mesmo alguns sinais elétricos emitidos pelo córtex cerebral e captados pelos aparelhos mais modernos de ressonância ou tomografia? Será mesmo que a vida começa quando esses sinais elétricos são captados na 20ª semana de gravidez. Tem um ditado que diz que enquanto houver vida, há esperança. Para o cristão, a esperança advém da morte de Jesus Cristo.

No próximo e último artigo dessa série, vou tratar de como a Bíblia encara a vida humana e qual seria a posição dela quanto a essas questões. Até lá.

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